Alegria, lição de vida e de batalhas vencidas desta pioneira do Socomim
2019-08-31 às 13:25:06) A entrevistada do Oberekando nesta semana, no espaço aos Pioneiros, foi Jandira Marques da Silva, que nascida em 20 de maio de 1939, atuou por muitos anos, ao lado do seu esposo, Castelar, como sapateira, no Socomim. Ela é mãe de Lucélia, Vanderlei, Lúcia Helena e Lucemery. Confira, em tópicos, uma agradabilíssima conversa, e abaixo, a íntegra (em vídeo) deste bate-papo.
DE SÃO JOÃO DA BOA VISTA PARA TELÊMACO!
De São José da Boa Vista, perto de Wenceslau Brás, ela e o esposo Castelar Rodrigues da Silva (de saudosa memória), vieram para Monte Alegre, em 1962. “Falavam da Indústria da Klabin do Paraná, que a gente tinha muitos planos, que a gente ia endireitar a situação, que ia ser bom, e que de fato que é bom mesmo, né? Mas, por causa de problema de saúde, ele conseguiu trabalhar apenas um ano (na fábrica), por motivo de doença”.
Ao chegarem à nova terra, no Harmonia, moraram no bairro Caiubi, “pois, nós buscamos o galo de briga, né, e mudamos para Telêmaco Borba, que aquele tempo, era ainda Cidade Nova”.
A profissão de sapateiro, já tinha o tão querido “Castelo”, e casados desde 1958, dona Jandira, claro, acompanhou o ofício do esposo.
O ETERNO NAMORADO
Aquele que se tornaria esposo dela, morava em Arapoti, e ia embora para Itararé. Nas ao conhecer um senhor que tinha uma sapataria, arrumou serviço lá, e ficou. “Ele era noivo! Daí não deu certo com a outra e nós se achamos!”. Vão fazer 31 anos que Deus o levou.
O OFÍCIO E UMA LIÇÃO DE UM VIAJANTE, QUANTO AO PROGRESSO!
Foram 29 anos, quase 30, de profissão, e antes do esposo falecer, já adoentado, ambos pararam.
Perguntada se o ramo comercial a fez ser ainda mais conhecida, disse da facilidade de comunicação, e de fazer novas amizades, que sempre teve. “Consegui muitos amigos, muitos conhecidos, que as vezes, algum serviço que eu ia fazer, eu nem cobrava”. Pessoa doce, disse que não custa já, dar um bom dia, boa tarde e um sorriso para alguém.
Das lembranças da profissão, as muitas viagens para o Norte do Estado, como Londrina e Apucarana. “A gente visitava aquelas fábricas e lá eu aprendi que eles faziam o aproveitamento das calças que cortavam a barra, daí eles faziam o tamanco”, na parte chamada de rosto. Eles compravam a cepa (parte da madeira do tamanco), ele lixava e envernizava, colocava a sola e ela fazia o rosto do tamanco, e disse que teve bastante êxito.
Uma vez, lembra ela, quando receberam um vendedor, uma moça chegou e colocou as mãos tampando o nariz e reclamou, “ai, que fedor de couro”. Explicou: “Ai o viajante, uma pessoa muito civilizada, disse, que aonde que há fedor, há progresso!”. Ela fez ai, uma analogia com Telêmaco, especialmente no passado, em relação à Klabin.
Ela gostava muito do que fazia, e disse que era bem esforçada, e que deixava o freguês contente e “ganhava os troco!”, expressando com trivial bom humor. Quanto ao esposo, disse: “O meu marido tinha uma mão de obra muito especial. Ele fazia aqueles sapatos sociais, de pelica, a mão! Era muito fino!”.
VIDA ANTES, ERA ROÇA, LAVAGEM DE ROUPA NO RIO, COM LATA D´ÁGUA NA CABEÇA
Ela disse que a vida mudou bastante, pois antes, quando solteira, era na roça, de lavar roupa no rio, passar roupa com ferro de brasa, e torrar café. “Então, quando casei, pensei que tinha que ajudar meu esposo, porque eu não sabia nem pedalar uma máquina, mas para ajudar ele, eu me esforcei e aprendi!”. Ela não consegue ficar parada, e hoje, faz seu tricô, tem suas plantinhas, e acorda cedo! Aprendizado da vida! “Hoje eu não preciso levantar 5 horas, mas acordei, eu pulo da cama!”.
Da família maravilhosa que tem, agradece a Deus, mas sabe também: “Dei e dou bom exemplo!”. Falou com alegria do exemplo do filho Vanderlei, que é candidato a diácono, e está fazendo sua formação até o ano que vem, das suas idas à catequese, quando crianças, aonde o caminho era ainda, cheio de carreiros.
O PARTO DO FILHO DA PIONEIRA DO SOCOMIM, NO DIA DO TERRÍVEL FOGO NA FLORESTA DA KLABIN
Ela chegou ao bairro, e eram raras as ruas, e claro, nada de rede de esgoto! Antes disso, morou primeiramente no Bela Vista, após vir do bairro Caiubú, em Harmonia.
Do filho Vanderlei Aparecido da Silva, nascido em 05 de setembro de 1963, teve o dia de seu parto, além da alegria pela sua chegada, também a apreensão, pois era o dia em que o fogo estava corroendo as florestas da Klabin. Como Dona Jandira morava no Bela Vista, e o fogo acabava de – suas chamas – conseguir ultrapassar o rio Tibagi, vieram evacuar as pessoas das casas, mas ela, sem ainda saber aonde teria o parto, foi levada para o hospital onde era o antigo funrural, do lado do Hospital Dia, na Avenida Chanceler Horário Laffer. “O Vanderlei nasceu bem no dia em que pegou fogo na serraria da Harmonia e pegou fogo pra cá!”.
É UM AMOR LINDO POR TELÊMACO BORBA E PELO SOCOMIM!
De tudo, é tocante o carinho com que ela fala da cidade, com amor: “Eu escolhi uma cidade maravilhosa! Todas as pessoas, assim, da área da Saúde, são todas legais, da área da Educação! A gente tem bastante amizades, a gente conhece todo mundo! É bom dia, boa tarde! É muito bom!”.
MOMENTOS DIFÍCEIS COM A MALEITA, QUANDO CRIANÇA!
Segunda irmã, numa família de duas meninas e três meninos, ela teve a perda deles, bem como dos pais. “Aí eu penso, que de certo, Deus tem algum propósito comigo, porque ficou só eu!”.
A vida era difícil, pois segundo ela, se não fosse roça, era lavar roupa no rio e subir com água na cabeça. Ela conseguia equilibrar e trazer uma lata d’água na cabeça, e um balde na mão.
Como ela trabalhava numa sorveteria, era sua função achar as minas de água, pois quando acabava a divina matéria prima, tinha que saber aonde abastecer.
Vendo a situação da mãe e pai, ela e sua irmã, começaram a trabalhar muito cedo.
O pai dela, foi delegado da cidade, e serviu no Tiro de Guerra, e era muito rígido, mas ele, uma pessoa muito bondosa. “Ele dizia para nós... ‘olha meus filhos, os filhos que não obedecem os pais, o mundo educa!’”.
Ela nasceu em 1939, mas quando foi em 1940, a maleita, doença feroz, chegou, e até hoje marca sua lembrança: “Lá não tinha hora para enterrar gente! Era de dia e de noite, porque morria muito mais! Só lá de casa morreu dois irmãos meus no prazo de 15 dias!”. Ela também teve maleita, e só ficou a mãe dela em pé! Naquela época não tinha quase médico e eram as benzedeiras, com massagens, as alternativas.
ENSINA A PESCAR, MAS NÃO DÁ O PEIXE
Super avó, mãe, e enfim, uma palavra que, com sua sapiência, serve de conselho as novas gerações, foi de que estimulou filhos e estimula netos, a trabalhar, para ter aquilo que desejam. “Eu levanto cedo, trato bem, faço o que tem que fazer, mas o dinheirinho ele vai ter que estudar e trabalhar. Por exemplo, tem alguns que fazem sacrifício para comprar um carro pro filho... não, eu não faço isso!”, no sentido de ensinar a pescar, e não dar o peixe.
Ao final da entrevista, ao ser perguntada da música de preferência, preferiu lembrar “A barca”, canção católica.
Antes porém, ao responder se gostava de baile nos tempos passados, uma curiosidade: “Trabalhava, mas dançava! Mas só, que foi até achar o marido. Nem o baile de nosso casamento ele não quis, e não teve!”. Com bom humor lembrou que tinha, antes dito a uma amiga, que desejava arranjar um namorado, e que ele não deixasse ela dançar mais! E deu certo, confirmou ela, sorridente!
A SERVIÇO DA COMUNIDADE E AS AMIZADES DA JUVENTUDE MARIANA E O EXEMPLO DA AMIGA ANA
Morando próximo da capela da Comunidade Nossa Senhora Aparecida, no Socomim, sempre esteve à disposição e trabalhou em muitas festas, apenas esse ano se reservou, porque não estava tão bem: “Só que, a nossa Socomim e a nossa Telêmaco Borba, igual não tem!” Marco António, neto, mora com a avó e é seu companheirinho! Um sonho dela, é a aposentadoria, mas que ela acha que ainda virá!
Lembrando dos amigos da Lucemery, laços esses, firmados no tempo em que sua filha participou da Juventude Mariana, e são amizades que permanecem, uma homenagem à Ana Maria do Nascimento. Ela cuida desde sempre de seu paizinho, querido barbeiro do Socomim, Sr. Valdomiro, que está de idade. “A Ana é uma moça, que o que ela está fazendo, é muito bonito, e é muito bom! Porque ela trabalha, ela se preocupa com o pai dela, não abandonou e está firme! Eu assino embaixo!”. Sintam-se homenageados, todos os ex-participantes e atuais, da Juventude Mariana, onde este que aqui escreve, teve a alegria de fazer parte, dentro da coordenação diocesana, há muitos anos atrás, mas é amizade com todos, para toda a vida!
Você sabia que São Crispim e São Crispiniano, eram irmãos, e ficaram conhecidos por serem sapateiros?