“Aos 10 anos, em Reserva, ele escutou a dicção de um advogado em uma audiência. Hora do recreio na escola, mas ele ficou e ainda pediu que primas avisassem que chegaria mais tarde em casa. Foi amor ao primeiro encontro com o Direito!”
2018-08-26 às 11:29:01) Hoje, dia 26 de agosto, inicia-se no Oberekando uma nova sessão: Os Pioneiros, onde trar-se-ão trajetórias de alguns personagens da vida real, que ajudaram Telêmaco Borba a chegar no que é na atualidade.
Nosso primeiro entrevistado é Frederico Mercer Guimarães. Atuante advogado, ele é ex-vereador e presidente da Câmara Municipal, e também foi cartorário na cidade. Seu nascimento em 17 de agosto de 1941, deu-se na localidade de Lavra, em Tibagi.
DE RESERVA PARA CURITIBA E ENFIM, TELÊMACO
Ele saiu de Reserva com 12 anos para trabalhar e estudar em Curitiba. Na época, fez o exame de Admissão para ingressar no Colégio Estadual do Paraná, na capital, onde se saiu muito bem: “Um caboclinho nascido na Lavra, município de Tibagi!”.
Quando nosso entrevistado estava com seis meses, o pai dele que era carpinteiro, foi trabalhar na construção da usina do Mauá. O seu pai havia herdado terras em Tibagi e Reserva e seu avô materno era praticamente o carro chefe da família, além de filho de inglês: Também carpinteiro, era um líder nesta construção, na época de 1940. Antes de completar cinco anos, os pais de Frederico mudaram-se para Reserva, ao Vau de Cima, onde a família abriu um comércio e também atuou na agricultura e pecuária.
“TIO GUATA” (QUATAÇARA BORBA CARNEIRO)
No Pinheiro Seco em Tibagi, morava seu tio Guataçara Borba Carneiro, que quando ele faleceu, um colunista, Davi Carneiro, da Gazeta do Povo escreveu que ele fora ex-tudo, pois exerceu desde delegado de polícia até governador de Estado (ocupando interinamente em lugar de Moisés Lupion, que inclusive era casado com uma prima de Guataçara). Naquela época não havia vice-governador e ele era presidente da Assembleia.
Guataçara era de Mercer, tio avô, pois era irmão da avó, paterna dele.
Hoje a Rua Guataçara Borba Carneiro é a que liga a Casa da Cultura ao BNH, passando pelo Inspirar Studio, e foi projeto do então vereador Frederico, como “prestígio as pessoas que realmente fizeram pelo município”. Segue: “O tio Guata, como prefeito (de Tibagi) e posteriormente deputado estadual, conseguiu a construção da rodovia ligando Tibagi até Harmonia”, porque antes disso as peças para a construção da indústria vinham por Ventania, Pirai, pela existência da rede ferroviária: “Mais tarde com a interferência dele e da Indústria Klabin, fora construída a ponte, aqui!”.
Em Curitiba, com 12 anos, ido trabalhar e estudar, ficou na casa do irmão da mãe dele. Ele era dos Mercer. Foi trabalhar na Casa Suíça de Eletricidade, que era de consertos, elétrica e construções, por exemplo, de fogareiros: Isso em meio expediente, após estudar de manhã.
Entre seus 15 e 16 anos, se viu necessitando voltar à Reserva, porque devido a uma seca ou chuva intensa, seu pai que vendia para receber na safra, viu os fregueses não o podendo pagar e seu comércio não se dar bem. O conselho para que o filho na capital, mais novo, voltasse para ajudar os pais, fora do irmão mais velho, que era tenente do Exército. Naquela época nem se trancava matrícula e sim se abandonava, e ele já tinha passado para o terceiro ano ginasial, e assim o fez!
Eis que a decisão dos pais, pela sua mãe, foi de que ele viesse para Monte Alegre, e entra, antes de completar 16 anos, como contínuo, na Farmácia Monte Alegre (que funcionava ao lado do Bar Grande, e pertencia ao grupo Ormasa - Organização Monte Alegrense de Saúde em Harmonia, que era o Hospital da Harmonia). Como em Curitiba ele teve a “felicidade” pelo seu tio que o patrocinou Datilografia e ter também a letra bonita, logo foi oportunizado para trabalhar na parte administrativa da farmácia. Aprendiz ganhava na época, meio salário e ele logo passou a um salário. No entanto, metade disso, mandava para ajudar os pais em Reserva: “Diz minha mãe, falava na época, que esse meio salário dava pra ela comprar alimentação por dois a três meses”.
Depois disso surgiu a oportunidade dele trabalhar no Hotel Ikapê, que era dirigido por italianos. Trabalhando na portaria e tendo seu quartinho, tinha mais liberdade e eis que também, começava a aprender o idioma Italiano. Também já podia a ir ao Cine Harmonia, que era a atração da época. Seu inglês também foi ampliando-se.
Com quase 18 anos, e precisando ganhar mais para ir pro Exército, que acabaria se tardando para um ano depois, ele entrou nas Casas Pernambucanas: Nessa, no final de 1958, além do salário, vinham também comissões. Ele entrou naqueles períodos de fim de ano. Fora promovido a vice-gerente e ficou licenciado, tendo ao todo, ficado lá 3 anos. Entrou depois na Tecidolândia. Novamente veio o tio Guata, que o aconselhou voltar a estudar.
JÁ EM TELÊMACO E VIDA PÚBLICA SE INICIANDO
O Tio pediu ao sobrinho, vaga à Dinizar Ribas de Carvalho, que além de trabalhar na Klabin, era assessor do primeiro prefeito, Péricles Pacheco da Silva, na prefeitura. Com a pretensão de Telêmaco de se desmembrar da Comarca de Tibagi, Frederico fora usado nesse processo. Era desembargador do Estado e muito ajudou para isso, Edmundo Mercer Júnior, que era primo segundo do avô dele. Sabendo disso, o incluíram na comissão para reivindicar a criação da Comarca. Reconhecendo o crescimento da Telêmaco, não sobrou tantas alternativas que não fosse a criação desta, mas um pedido veio à Péricles, que na criação de um cartório, esse fosse de Frederico, e isso foi atendido. Cartório criado em 1969, se preparou e fez cursos inerentes, e passa ele a ser “escrivão do crime”, que era um dos segmentos, como titular do cartório criminal e de menores. Veio o progresso financeiro, mas eis que seu tio Guata relembra que agora era a hora de ele fazer Direito, e assim se deu. Eram 40 vagas e o entrevistado ficou em 43ª, iniciando seus estudos lá por maio.
Novamente o tio Guata, vendo a ascensão do advogado e cartorário, disse que entrasse na política, e assim foi incentivado por Ribas de Carvalho. Lançou-se ainda “piazão”: auto-considerava-se ele e sem esperança de eleger-se. Eis que fora o terceiro mais votado da Arena, em 1972, com 31 anos de idade. Um dos locais que fora pedir votos com o Tio Guata que fez andanças com ele, fora na casa de Osório de Camargo, que era o avô da esposa do vereador Mário Cesar Marcondes (Cesinha). A mulher de “Tio Osório” era irmã da avó de Frederico. Uma certa persistência se deu, por questões partidárias, do apoio dele à Frederico, mas essa foi quebrada quando Guataçara questionou que havia ajudado a Osório sair da cadeia – ele fora preso político na época da Revolução: “13 votos eu arrumo pra ele, só que ele não espalhe aí, que eu sou contra!”, reproduziu Frederico
Permaneceu na Câmara até 1996. Foram 24 anos sem perder nenhuma eleição! Em 1992 se aposentou do cartório e começo a advogar, mas a atuação em Direito e a Política não se combinavam. Mesmo que até hoje faça sua parte de responsabilidade social enquanto advogado, quando de clientes sem condições financeiras, viu que era muito coisa pedida de forma gratuita, mas mais ainda: causas que, devido à idade, não lhe davam tréguas seja durante a noite, ou madrugadas com clientes batendo à sua porta. Ressalte-se que quando iniciou como vereador, esses não ganhavam um tostão!
Antes de deixar a política, no sentido de cargos, após receber vários convites para ser candidato a prefeito, cedeu a saiu, “para colaborar”, como vice-prefeito na chapa que tinha o titular, Dr. Lineu Voigth.
ADVOGADO POR AMOR À CAUSA: UM ESTUDANTE DE 10 ANOS QUE SE ENCANTOU POR UM JURI
Quando tinha 10 anos de idade, e em Reserva, com a escola ao lado do fórum, e na hora do recreio, - e tudo naquela época com construção de madeira -, escutou um debate vindo do fórum e chegou mais próximo para escutar: “Escutei um advogado de fora, numa dicção de voz muito bonita”. Perguntou para as pessoas de quem se tratava e o advogado era Manuel Braga Ramos: Um criminalista muito famoso de Ponta Grossa. Como continuaram os debates depois das aulas e iam a pé para casa que ficava à 4 km da sede, com suas primas, pediu a elas que avisassem na casa, aos pais dele, que chegaria mais tarde pois queria ficar até o fim daquele julgamento. “Eu cheguei em casa e falei para minha mãe, ‘Mãe eu quero ser advogado!’”. Segue ele: “A gente era pobre e não tinha nem condições de fazer o curso ginasial”. Numa pretensão de compra de terras dos pais dele, que tinha o tio Guata, ficou o compromisso desse último, de dar estudos a ele e seus irmãos (aos sobrinhos): “Olha Isabel, prometo dar estudo a essa gurizada. Os que quiserem vão comigo”, segundo Frederico, disse o Tio Guataçara. Na família do entrevistado eram sete irmãos e uma irmã: A irmã é Castorina, que por muitos anos foi assistente administrativa na Câmara Municipal de Telêmaco e, adendo deste jornalista, foi madrinha vocacional deste que aqui escreve, no período em que estudou para ser padre, por um ano e meio. Eis que entre 11 para 12 anos, Guataçara encosta a caminhonete e viera buscar os meninos: “Vim buscar aqui o Frederiquinho para levar para estudar!”. Matilde Bittencout Mercer, esposa de Guataçara era prima da mãe de Frederico, dona Isabel, e logo que sabe que o menino ainda não havia recebido a Crisma, e assim providenciou. O tio arrumou para seu irmão mais velho trabalhar na CTN (Companhia Telefônica Nacional): Passa então Frederico a morar com o irmão.
E HOJE!
A política de hoje foi abordada por ele, numa análise da conjuntura, de como era e como está. Disse ser fã de Fernando Henrique Cardoso, que trouxe a Lei de Responsabilidade Fiscal, “que começou a pegar os políticos. A corrupção, por fim, foi outra citação dele, como fato que denegriu a política. Não defende que se deixe de votar, mas sim, também, que se tenha uma democracia, porém mais rígida como é nos Estados Unidos, onde por exemplo, fazendo com que os presos trabalhem, acabam por pagar (parte de) suas penas. Dos envolvidos com drogas, ao invés da violência, um tratamento custeado pelo Estado ou entidades, ou ainda pela iniciativa privada, e que esses neste período, também produzissem, pelo trabalho.
Na época do prefeito Dr. Ribas de Carvalho, onde Frederico foi líder do governo, foi fundado o Centro de Promoção Humana, tão carinhosamente cuidado pela Irmã Rosa, que era uma forma de ajuda pela comunidade, aos mais carentes, além de uma série de cursos de formação e capacitação.
Membro do Lions, lembrou que este fundou o Asilo São Vicente de Paulo, e as tantas ações deste clube de serviço. Exaltou o valoroso trabalho que viria a fazer também o Rotary.
No Facebook, o advogado e pioneiro Frederico Mercer Guimarães escreve “Histórias e Histórias”, onde narra seu passado, comenta política, mas já adianta que não se envolve, apenas tece suas opiniões.
O advogado informou que tem recebido inúmeros pedidos para que escreva um livro, e seria de grande contribuição para nossa comunidade!
*Sugeriu a criação deste espaço com os Pioneiros, o tão querido hoje, presidente do Clube Escoteiros Monte Alegre, o Gema, Mustafa Muhamad Schehadel Hassan El Hayek, pessoa esta que tanto ama e se dedica por Telêmaco Borba.