Ele é um dos símbolos do Socomim
2019-12-09 às 11:04:47) Uma forma de homenagear pessoas que muito contribuíram e contribuem para com a cidade de Telêmaco, mais um entrevistado neste Especial de Natal: Trata-se de Deni Domingues da Silva, o dono, na época, do Mercado São Domingues, na Marechal Floriano, avenida principal do Bairro Socomim.
O bate-papo começou com ele perguntando se este jornalista queria saber, desde o dia em que ele nascerá. Muito descontraído e amigo, informou: “Dia 16 de junho de 1937, às 2 horas da tarde”. Na localidade de Imbaú de Fora, pertencente à Tibagi naquela época. Lá ficou até os 20 anos, quando foi para o Exército em Ponta Grossa, por um ano no 13 RI. “Saí do 13, vim embora pra Imbaú (de Fora). Muito pobre, não tinha o que fazer, e a roça também naquele tempo, não tinha maquinário, era só na mão... não dava nada”. As culturas eram milho, feijão, arroz, e amendoim. Procurou outros tipos de serviço ao chegar à Telêmaco Borba, mas sem sucesso. Voltou pra Campina dos Pupos, cortar lenha pra Klabin. Sem motosserra, as madeiras eram cortadas na raça e empilhadas na beira do ramal, facilitando para o transporte.
Lá no passado, sua história não muito distante com o Mercado São Domingues, começa a se desenhar, pois na Fazenda Leal, em Ortigueira, hoje correspondente um pouco pra lá do Projeto Puma, abre um mercado. Lá, já tinha a turma trabalhando com ele, no corte de madeira.
CANDIDATO A VEREADOR, ELEITO, MAS ABANDONOU O CARGO, POR NÃO PODER AJUDAR O POVO DA FORMA QUE ACHAVA QUE ERA
Sua ligação com amigos e equipe de trabalho e sua popularidade foram tão boas, que foi levado a candidatar-se, com vitória, à Câmara Municipal de Ortigueira: “E eu, analfabeto e muito tongo, não sabia como tocava (o cargo de vereador), aceitei a candidatura, e ganhei! Mas naquele tempo, vereador não ganhava nada! E ai eu pensava que o vereador era pra fazer o que o povo precisava, não é?”. Aí chegavam as pessoas e diziam que votaram para ele, e que no local em que estes moravam, como foi um caso, necessitava-se fazer uma igreja: “Eu pegava o caminhão, com motorista, mandava lá na serraria. Carregue o que for preciso, e o povo do bairro fazia lá!”. Da mesma forma o grupo (escolar)! “E ali eu fui fazendo, e de repente, me quebrei! Acabou o dinheiro! Ai eu fui na Prefeitura. Eu tinha tudo anotado num caderno!”. Neste, todos os gastos foram anotados, mas soube que não iria receber nada, pois antes de ajudar, teria que ter feito um Projeto de Lei que autorizasse. Esta pessoa que isso lhe explicou, na prefeitura, não lhe tratou muito bem. Era prefeito na época, Nilsom Gorski, que acabou tempo outra gestão. Já que não ia mesmo receber, pegou o caderno de anotações, e jogou na sala, e nunca vai voltou em reunião nenhuma (da câmara). Assumiu em seu lugar, Juraci, do Lageado. Naquele tempo, a Klabin era Arena, e só existia Arena e MDB, mas a Klabin o tranquilizou que ele pudesse fazer sua campanha normalmente.
MERCADO SÃO DOMINGUES ABASTECIA OS ACAMPAMENTOS DA KLABIN
Ele montou um boteco em outro local próximo do Socomim, e já veio em seguida, com o Mercado São Domingues. Ele também foi comprando caminhão, porque naquela época, a Klabin financiava o caminhão para a pessoa, e descontava na produção que era a ela vendida em madeiras. Chegou um tempo que ele tinha 22 caminhões, e quatro da manhã, saia no bairro, recolher sua turma para ir pros matos.
Vendeu os caminhões quando a Klabin parou com os puxadores de madeira, “mas a Klabin me deu uma chance de eu fornecer os seus empregados, que moravam nos acampamentos (a exemplo de Lagoa, Mina de Carvão, Antas, Miranda, Mandaçaia e Km 28), que compravam no Mercado São Domingues. Ele chegou a comprar o mercado do 28, mas depois parou.
E O CAMINHÃO QUE GIBSON RECEBEU PRA TOCAR A VIDA?
Um dos seus genros, acabou recentemente, tendo destaque maior, sendo prefeito de Telêmaco, e hoje é deputado estadual suplente. Trata-se de Luiz Carlos Gibson, o Nêne, que foi casado com sua filha, Leiry, mais conhecida por Tica, e que falecera anos atrás. Deni reafirmou que passou a Gibson, na época, vendo que ele era muito esforçado, um caminhão. Foi ali que ele começou sua vida de casado.
CHEGADA AO SOCOMIM
Em 1972, isso se deu. E comprou no local, alguns terrenos. Hoje tirou o pé do freio! É muito querido por todos e pela comunidade do Socomim, especialmente: “Eu estou com 82 anos e não tenho nenhum inimigo! Nunca briguei, nunca tomei um tapa, mas nunca dei um tapa! E todo mundo me conhece, gosta de mim, e da minha família inteira, e estamos vivendo assim, né, com a graça de Deus!”.
E O TOMBO DO CASCUDO?
Este jornalista entrou num particular e bem humorado momento, ao perguntar de um tombo de rede que levou Jairo Oberek, irmão deste que aqui escreve. Deni disse que quem “atorou” a rede onde estava o Cascudo (apelido de Jairo) era seu irmão com apelido de Pequeno, mas que ficou nele essa conta: Deni reafirmou a grande amizade com Jairo. Recordou-se também com carinho de Laerte Bueno, que era o cozinheiro entre a turma de amigos nas pescarias. Também uma grande amizade!
INFÂNCIA E OS BAILES NA JUVENTUDE, E A FAMÍLIA
Perguntado qual era a diversão dele, como criança, disse que era trabalhar: “Papai criou nós, só na roça. Levantava de manhã cedo ia pra roça, carpir, arrancar milho, cuidar da lavoura lá. Depois que eu casei, sai procurar serviço”.
Mas, bem especulado, brincadeira não havia tempo, mas descobriu-se um “pé de valsa” e nada mais que merecido, depois de tanto esforço durante a semana: Aos sábados ia pro baile.
“Inclusive quando eu casei, um dia eu fui chamado num baile, pra mim dançar com minha esposa, uma valsa... a valsa dos noivos!”. Ele viveu 51 anos com dona Inês, sua esposa, de saudosa memória, e tão querida que era por todos: “Ela ficou doente 39 anos, e eu cuidando dela!”.
FAMÍLIA: Ele teve quatro filhas, sendo que Dona Tica como era mais conhecida Leiry (primeira-dama que foi), já não está entre nós. As demais meninas da casa são Simone, Iracema, e Cleiry, que a sua época, casaram, “e tudo pobrezinho, sabe, mas tudo muito honesto e trabalhador!”. Simone chegou no momento em que a entrevistada estava sendo encerrada, e demonstrou, assim como os demais familiares, todo afeto ao pai!
DEU EMPREGOS
Deni deu também, muito emprego. Só nos matos, eram 70 peões trabalhando cortando madeira para a Klabin. Ele comenta que tem muito respeito e carinho com todos, o pobre, o rico, o branco, e o preto: “O pobre trabalhou pra mim, e o rico tinha o dinheiro pra pagar eu!”.
Então porque a pessoa é pobre fique pra lá? Não! Ele tá são e vivo, então vem trabalhar pra mim!”.
Ele lembra, que como forma de ajudar aos genros. Assim foi com Gibson, que teve a chance de tocar um açougue, que ficava ali no BQ. Ele foi sincero e disse ao sogro que não tinha prática no ramo, e muito agradeceu, e foi ai que ele foi pros matos também! Antes disso, tocou uma farmácia. Depois a farmácia foi passada para Iracema, que hoje está com esse ramo, em Arapoti.
EDUCAÇÃO DA CRIANÇADA HOJE EM DIA
Um paralelo de como era a educação das crianças e de todos no passado, em relação a hoje, foi feito: “Depois que inventaram esse celular, acabou tudo! Ninguém conversa, ninguém olha um no outro, ninguém diz adeus, filho não dá louvado de mão arrumada pros pais. E outra coisa, as mulheres não podem trabalhar no serviço da roça, porque senão quebra a unha e tira a pintura”, falando deste segundo aspecto, com respeito, mas bom humor.
OS SÁBADOS DE ALELUIAS E SUA JUVENTUDE
O tempo em que as plantações eram colhidas normalmente e sem adiantar colheitas com químicos, e também a época que se matava porco no sítio e ia entregar um pedacinho de carne a cada vizinho, foi lembrado. Confessou que tinha dó. E nunca matou porco: “Tinha dó de matar os porquinhos, né?!”.
SÁBADO DE ALELUIA: Nos sábados de aleluia, o pai de seu Deni matava uma vaca: “Reunia todos os vizinhos pra ajudar a matar a vaca. Tirar o couro, para fazer o fogo e assar uma costela. Todo aquele povo almoçar junto lá. E de noite, o bailão! De manhã cedo, ao fim da festa, ninguém ia embora, sem comer alguma coisa!”. Era certo o café com bolo e viradão de frango, lembrou ele.
“Naquele tempo não tinha miséria. E amanhecia o bailão com aquele montão de gente, não tinha discussão, não tinha briga, não tinha nada! E não tinha esse negócio de disco pra tocar... era o gaiteiro mesmo!”. O Juca serrador era o melhor gaiteiro daquele bairro, lá nas Gáias. Nesse momento é lembrado de Nilce Bueno de Lima, padrinho deste jornalista, e um amigão de Deni: “E saiam aquelas rezas de fim do ano e reunia todo aquele povo das Gáias”.
Perguntado se era muito namorador na juventude, antes de casar, disse que não, mas sim, que faziam sucesso os filhos de João Beata (pai dele) quando chegavam nos bailes, porque por serem queridos, todos se alegravam com eles. Ficou no Exército um ano, e era “peixe” do coronel, que “era muito bêbado”, mas era muito bom pra ele, tanto que o convidou para ir para Santa Mariana, que com 60 dias, voltaria com duas estrelas no ombro: “E ele falava ‘ 99, vou te pedir um favor... não pegue esse vício... não beba e não fume! Você veja bem, eu sou um coronel e estou nessa situação!”. Na hora de dar baixa, foi convidado a ficar, por ele, mas tinha que cuidar de sua mãe, e veio embora. “Só saí da casa do meu pai, quando casei”. Isso com 21 anos. Depois disso comprou um boteco no Imbaú: “Daí eu vendi tudo fiado, e acabei com o boteco!”. Tentou isso novamente em Telêmaco, “também deu em nada”. Montou uma bodega no Salto Conceição, e só deu certo porque Osni (seu irmão) pegou e ficou 21 anos trabalhando com ele. Mas o foco de Deni, que era nos matos, na madeira, ia muito bem.
MENSAGEM DE NATAL: Não se poderia encerrar a entrevista, sem a mensagem de Natal. “Peço que Deus abençoe todos vocês, com a graça de Deus, e nós, juntos!”, lembrando de sua família, filhas, genros e netos, e de todos os amigos que conquistou.