Desde 1961: Félix e a Bicicletaria Santa Helena, no Socomim
Matéria Reprisada extraida de meu blog, já desativado (Edivaldo Oberek)
O mecânico de bicicleta, Félix Sauter, é nascido em Ipiranga em 22 de abril de 1936, e com quase 74 anos, é de uma família de quatro irmãos, inclusive Fernando Sauter. Quando conheceu Telêmaco eram só pinheiros e depois da Klabin, abriu-se a estrada para Triângulo, que se iniciava pelas Cem casas, “Ruim e cheia de curvas”, que dava acesso a Imbaú, Tibagi, Ponta Grossa e Curitiba.
Aos 14 anos, ele lembra das primeiras casas que fizeram. Ele trabalhou com seu pai na construção das primeiras casas, bem como de um grande barracão para o senhor Carlos Frontal. Ali foi um estacionamento para colocar 63 carros. Era tudo de madeira, mas com base em concreto. Isso onde hoje é o Posto Ipiranga. As casas seriam construídas na Lagoa, mas ai veio o projeto Cidade Nova. Félix Sauter lembra dessa época quando Cacildo Arpelau era o prefeito de Tibagi e era responsável por TB, Oscar, numa espécie de administrador. “Ele cobrava imposto! Não tínhamos juiz e sim uma cadeia muito precária para prender as pessoas”.
“Eu abri a bicicletaria na frente da Livraria São Bento, em 1961, indo até 69. Deixei minha aparelhagem toda encostada e depois disso, abri de novo”. Nesse intervalo ele foi trabalhar na Estrada de Ferro Central do Paraná, que ligava Ponta Grossa á Apucarana. Ficou lá por mais de um ano, até a paralisação da obra devido á morte do governador do Estado, na época, de 1969 para 70. O primeiro nome da Bicicletaria foi Monark. Já, quando veio para o bairro Socomim, diz que o negócio fracassou, pois como tinha bastante freguês que eram marmiteiros, a abertura do restaurante da Klabin dispensou esse tipo de serviço e as bicicletas sumiram.
Local na época, próximo onde ficava a Bicicletaria Monark, de Félix. (Foto extraída da Dissertação de Mestrado de Juliana Teixeira)
OS MARMITEIROS AJUDAVAM NO MOVIMENTO
Félix no exterior da Bicicletaria Santa Helena, há quatro anos em um novo local, mas na Marechal Floriano, desde 1973
Nesse momento lembrei a ele que hoje os jovens, adolescentes chegam da escola e vão aos seus computadores, mas que naquela época, muitos eram marmiteiros. “Antigamente eram lambretas: hoje são motos. Antigamente não tinha skate: eram muitas bicicletas. As bicicletas com marcha começaram a vir em 71, 72. As Caloi 10, Monark 10 e hoje evoluiu muito. Lá por 1970, os meninos levavam marmitas aos seus pais. Tinham outros que levavam até 40 marmitas. Lotavam as bicicletas nos guidões, bagageiros e em toda parte para levar a comida. Ai as pessoas já esperavam na portaria. Assim foi a vida dos meninos, que trabalhavam demais e eu consertava as magrelinhas deles.
No Socomim, veio em 1973, e está na batalha, “até o dia que Deus permitir”, disse ele. A bicicletaria funcionou por muitos anos ao lado onde era o ponto de ônibus na cidade. Falando do Socomim, disse das serrarias que tinha no local e que as madeiras eram vendidas para exportação, ás outras cidades e para formação de nossas vilas em TB para o povão fazer suas moradias. No novo local ele já está há quatro anos, que por mais que se complete no dia 1º de abril, não é mentira. Félix, mesmo não sendo nascido em Telêmaco, já é telêmacoborbense por adoção e se diz feliz por fazer parte da fundação da cidade, antes, Cidade Nova! Telêmaco, que foi chamada assim, foi também deputado. Ele lembrou que a cidade era pra se chamar Wolfflândia. Felix ganha o respeito de todos. Impossível não cativar os clientes, e isso há muitos anos, com um diálogo muito agradável e camaradagem na hora de prestar serviços.
UM CLIENTE, DESDE OS SETE ANOS E DE PAI PARA FILHO
Paulo era trazido pelo pai quando criança e até hoje é freguês assíduo de Félix
“Comecei a comprar aqui desde uns sete anos, quando vinha com meu pai”. Paulo Castorino de Moraes hoje com 44 anos é freguês assíduo da Bicicletaria Santa Helena. “Antes vinha com o pai, ai fomos crescendo e vindo por conta, e isso até hoje”. Perguntado do atendimento e qual o segredo de tantos anos de ótimo atendimento e sempre da mesma forma, Paulo logo diz: “Entendo que isso vai continuar por muito tempo. O jeito dele... pessoa muito boa. A pessoa precisou e se for conhecido dele, se não tem dinheiro, ele espera. Comigo já aconteceu isso, de vir pra cá e furar um pneu... ele é uma pessoa muito abençoada”.
DE PAI PRA FILHO
Silvio, além de lembrar o trabalho na área, recordou também os tempos de infância e a serragem
Silvio, filho de Félix, com 52 anos, que dá uma força ao seu pai desde os 10 anos de idade, lembrou um pouco do tempo de infância e da serragem. Este local pegava o espaço que era das Ruas Araucária, Rui Barbosa e lado de cima da Monteiro Lobato e era o depósito de serragem das serrarias, no Socomim. O nome Socomim é, salvo engano e favor me auxiliar quem souber: Sociedade Comercial e Industrial de Madeira.
A estratégia na serragem, quando enchia de meninos para brincar, era deslizar por maior velocidade e com manobras não só diretas, e sim laterais pelo local, proporcionado pelo corte de madeiras. “Era a maior alegria. Fazia-se uma barca de madeira e no fundo dela, era passada cera. Ai ela descida que era uma beleza! Perguntado se andou de carrinho de mão, lembra que com os de rolamento - assim chamado os de rolimãs naquela época, que na descida da hoje Olímpio Vieira de Campos, seu dedão pegou na parte de baixo do rolamento. “Mas dói, né?”, indagou ele. Um dia depois dos acidentes, estava tudo bem e era só alegria novamente. Perguntado se aquele tempo deixa saudades, afirmou que sim. “Aquele tempo não volta mais, não é?”.